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Este é um programa digital de LESTE
Podemos cantar no tom certo numa língua desconhecida? LESTE, inspirado em Um Sonho de Goldfadn, traz à tona a tradição do musical ídiche, idioma falado pela comunidade judaica do Leste Europeu. Em plena pandemia, essa tradição, que foi totalmente submergida pela Segunda Guerra Mundial, volta transmutada para o TAIB, histórico palco da Casa do Povo. Bruxas, fantasmas, músicos, partisans e atores se juntam numa dança onírica, reunindo as lutas do passado com as do presente.
No programa a seguir, você pode saber mais sobre a história por trás da história, e assim adentrar com maior facilidade o universo de LESTE.
Por: Martha Kiss Perrone
O pensamento de bell hooks nos deu a pista no início do processo: “Nós fazemos das nossas palavras uma fala contra-hegemônica, liberando-nos nós mesmos na linguagem."
Agora, abrimos essa obra nômade, filme, instalação, ainda sem definição completa, que criamos em um encontro de artistas do teatro, cinema, música e artes visuais.
Um teatro em exílio no cinema.
Uma festa, sonho, fuga, dança com os escombros e fantasmas do teatro TAIB.
Oyzer (Andre Lu)
Guardião do teatro ídiche, aquele que sopra todos os textos.
Marcus (Rodrigo Bolzan)
Um ator que se engaja com os partisans.
Sra Hopke e Boba Yakhne (Amanda Lyra)
A dona do teatro que deseja fechá-lo e a feiticeira que quer mantê-lo vivo.
Ada (Assucena Assucena)
O anjo da história, articula passado e presente, São Paulo e Varsóvia.
Hotsmakh (Heitor Goldflus)
O trabalhador, o arquétipo do luftmensch (homem de vento) da tradição ídiche.
Mirele (Vitoria Faria)
Uma orfã do shtetl que precisa fugir de um casamento forçado.
Bodka (Banda inventada para LESTE),
reune multi-instrumentistas que foram ao encontro da tradição Klezmer.
Juliano Abramovay
Como foi o seu reencontro com as músicas de Um Sonho de Goldfadn?
O processo de criação e transformação das músicas de Um Sonho de Goldfadn foi algo parecido com uma escavação arqueológica. O primeiro contato foi com as partituras, que foram encontradas em uma biblioteca na Polônia. As partituras estavam bem escritas, mas havia poucas indicações de texto, então era impossível saber qual música pertencia a qual personagem e cena. Isso só foi possível graças a Hugueta e sua fantástica memória. Mesmo tendo visto a peça apenas algumas vezes em 1948, ela se lembrava de que música pertencia a qual cena e personagem, e foi nos mostrando. Com isso, foi possível trabalhar nas músicas originais da melhor forma possível. Na sequência, pedi para que um amigo tocasse toda a música no piano e, a partir daí, começamos a criação para o LESTE.
Trechos das partituras de Rotbaum tocadas por Aseo Friesacher
Quais torções foram necessárias para trazer esse universo para o presente?
Foram grandes as transformações no mundo da música de 1948 até hoje. O Klezmer passou por uma verdadeira revolução na década de 1970, e se tornou bastante popular com a explosão do fenômeno chamado de "world music". Na peça, eu tentei valorizar a música Klezmer como ela é vista hoje, permeada pela influência de outros estilos musicais. Os músicos tiveram bastante liberdade para colocar suas influências dentro da peça, e eu acho muito legal ver como alguns ritmos da música brasileira se assemelham com ritmos que existem no Klezmer. Não buscamos isso de forma explícita, mas é algo que faz parte de nossa vivência, como músicos brasileiros.
Como você definiria o universo musical que acabou criando para LESTE?
O universo musical de LESTE gravita em torno do Klezmer, utilizando também outras músicas presentes na Europa Oriental – temos canções da Romênia, da República Tcheca, e canções que são populares em diversos países dos Bálcãs. Eu diria que o Leste Europeu – local onde Um Sonho de Goldfadn foi criado – é uma parte essencial do universo musical da peça.
Quais referências visuais da cultura ídiche guiaram o seu trabalho?
A mais forte de todas veio das pinturas de Chagall, com seus personagens sempre voando ou em suspensão, levitando em cores pelos shtetls. Além dele, nos baseamos também na primeira montagem de Um Sonho de Goldfadn, assim como nos cenários de Lasar Segall e nas pinturas do Gershon Knispel para fazer as telas de pintura que aparecem no cenário. O desafio foi conseguir ligar essa tradição do passado do teatro ídiche com uma linguagem contemporânea. Pensando nos cenários do LESTE, pensamos na melhor forma de ligar o teatro TAIB como cenário – esse passado em ruínas que insiste em não desaparecer –, ao segundo andar da Casa do Povo – todo feito de plástico e vento. O nó se deu de novo graças à obra do Chagall e esse voo onírico, às vezes sombrio, às vezes esperançoso.
Como descrever a importância da presença do teatro TAIB em sua direção de arte?
O grande protagonista dessa peça é o próprio teatro TAIB: ele, especificamente, dentro da Casa do Povo, e ele como alegoria de um teatro universal. Gosto de pensar que LESTE é uma reinauguração desse espaço que, mesmo deteriorado, ainda pulsa cheio de vida. Mexemos pouco no TAIB, pois, em grande parte, a direção de arte já tinha sido feita pelas camadas de tempo ali sobrepostas. A sensação de assombramento, de estar entrando num espaço cheio de bons fantasmas, espíritos do teatro ídiche, atores, atrizes e públicos que passaram por aquele palco e aquelas poltronas, permeia também a narrativa e a cenografia do resto da peça, onde o cenário se move sozinho e onde as imagens dançam sem corpo.
Como a migração da peça para o filme modificou o seu trabalho?
Quando a apresentação deixou de ter atores ao vivo e passou a ter a presença deles apenas como projeção e fantasmagoria, o cenário, e as operações que ele permite, deram um salto. A mudança para o filme não foi apenas uma contingência por conta da pandemia, ela tem todo seu sentido quando amarrada à dramaturgia e ao enredo. LESTE conta a história de diversas diásporas, de personagens e figuras do passado que ainda nos ronda, de presenças que estão impressas indiretamente na construção da Casa do Povo, no vento que é soprado por esses fantasmas e que fazem mover o espetáculo. A mudança para esse teatro híbrido também nos exigiu realizar e explorar algo que não conhecíamos, que ainda não sabemos muito bem como chamar. Esse tipo de trabalho no fundo é o mais interessante para quem está fazendo, espero que seja também para quem vê!
Em 1876, Abraham Goldfadn (1840-1908) criou sua companhia de teatro ídiche e começou a apresentar suas peças em diversas capitais da Europa do Leste.
O que significa um “teatro ídiche”? Para Goldfadn, herdeiro da Haskalá, o iluminismo judaico consistia em trazer tanto a língua ídiche, então considerada uma língua informal e sem expressão, quanto a própria cultura judaica para o centro das discussões sobre arte. Isso implicaria na invenção de linguagem e, claro, na participação nos grandes palcos da Europa.
Essa tradição inventada, porém, não surgiu de forma inesperada. Já existia uma forma antiga, e ainda pujante, de expressão teatral, o Purim Shpil.
As peças curtas do Purim Shpil apareceram em algumas comunidades judaicas por volta do século XVI, lembrando a Commedia del Arte e outras tradições populares, e se espalharam por toda Europa. Ganharam diversas versões, sempre ancoradas na história de Purim, uma trama bíblica que conta a inesperada vitória do povo judeu na Persa antiga e marca o calendário judaico por um tipo singular de carnaval, lugar por excelência da inversão do mundo onde o riso é subversivo e o proibido é permitido, onde os gêneros se mesclam e os pobres zombam dos ricos e dos poderosos.
Mas foi a fama de Goldfadn que marcou o início consciente de um teatro que parece ter nascido pronto, em diálogo com as expressões do seu tempo – os vaudevilles, as óperas e as operetas, que então dominavam os palcos da Europa.
O sucesso imediato de Goldfadn lhe trouxe reconhecimento, mas também um certo desprezo de escritores ídiche, como I.L.Peretz e Scholem Aleichem, que desconsideravam suas criações demasiado comerciais e preferiam obras de Sholem Asch ou An-sky – este que escreveu a peça icônica O Dibbuk. Mas essa crítica não era unânime e, no auge do teatro ídiche, no entreguerras, as mais ousadas companhias de teatro de Varsóvia, Nova Iorque e Moscou seguiam revisitando o repertório de Godlfadn.
Com suas músicas clássicas e seus personagens típicos – a bruxa Boba Yakhne, o mascate Hotsmakh, o patético Kunl Leml e tantos outros –, o universo de Goldfadn marcou, como inventou, boa parte da cultura ídiche, criando um folclore para além do folclore.
Quando Goldfadn morreu, em Nova Iorque, longe da Ucrânia da sua infância, quase 100 mil pessoas acompanharam o enterro de quem, na época, foi descrito pelo New York Times como “poeta e profeta (...), o Shakespeare ídiche”.
Jakub Rotbaum e os membros do Dramkraiz (grupo de teatro), 1948. Acervo ICIB/Casa do Povo
Nesse seu diário, Pola, atriz amadora e ativista fundadora da Casa do Povo, relata o seu primeiro encontro com Jakub Rotbaum (1901–1994), que estava de passagem pelo Brasil. A viagem de Rotbaum era parte de uma turnê internacional.
O diretor judeu polonês, Jakub Rotbaum, não viajava com uma companhia, um produtor, nem com figurinos ou objetos de cena, mas com um roteiro e partituras debaixo do braço, e buscava encontrar, em cada cidade por onde passava, uma comunidade judaica com atores de teatro ídiche.
Foi assim que passou por Detroit (1942), Nova Iorque (1943), Montreal (1945), Buenos Aires (1946), Londres (1947), Paris (1947) e São Paulo (1948), com o objetivo de montar sua peça em cada cidade com atores locais - amadores ou profissionais.
Em Um Sonho de Goldfadn, Jakub Rotbaum reúne os mais famosos personagens das clássicas peças de Abraham Goldfadn – cada personagem com suas músicas características – em um mesmo e delirante musical onírico.
Escrita em plena guerra, a peça de Rotbaum procura no teatro a salvação de um mundo que está desmoronando. No enredo original, Oyzer, o ponto do teatro – ou seja, a pessoa que assopra os textos aos atores – fica sabendo que o teatro ídiche onde trabalha vai fechar. Desesperado, ele bebe e cai em um sono profundo. Em seus sonhos, encontra os personagens do pai do teatro ídiche, que se juntam a ele para salvar o teatro arruinado e, de quebra, o próprio mundo do Ídichland.
Um Sonho de de Goldfadn, Jakub Rotbaum e Dramkraiz (grupo de teatro), Teatro Municipal, 1948. Acervo ICIB/Casa do Povo
Rara gravação de Um Sonho de Goldfadn, pela companhia do Teatro Estatal Ídiche, Varsóvia, anos 50. Gravação em fita cassete, YIVO RG 118, Yiddish Theater Collection.
Pola acabou interpretando Mirele, a jovem heroína da peça na montagem que Rotbaum realizou no palco do Teatro Municipal de São Paulo, em 1948. A filha de Pola, Hugueta Sendacz, hoje com 95 anos, assistiu da plateia a todas as representações.
Em 2015, Hugueta não apenas traduziu o manuscrito da peça, reencontrado em arquivos da Polônia, como, pouco a pouco, relembrou das músicas que tinha ouvido quase 70 anos atrás.
Por: Benjamin Seroussi
“Vivemos em um universo de blocos de espaço-tempo, onde nada passa e desaparece fisicamente, mas onde ocasionalmente as coisas se retiram por causa de desastres que ultrapassam as fronteiras. Palestinos, curdos e bósnios têm que lidar não apenas com o apagamento, consertado por seus inimigos, de grande parte de sua tradição, mas também com a retirada adicional, mais insidiosa, do que sobreviveu à destruição física. Após a superação do desastre, o dever de um artista é ‘ressuscitar o que foi retirado’ ou ‘revelar a retirada’.” Trecho da palestra "A retirada da tradição depois de um desastre insuperável", Jalal Toufic, 2008.
“Eu gosto de escrever histórias de fantasmas e nada se encaixa melhor em um fantasma do que uma língua morrendo. Quanto mais morto o idioma, mais vivo é o fantasma. Os fantasmas amam o iídiche e, tanto quanto sei, todos eles falam ídiche.” Discurso de gala do Prêmio Nobel, Isaac Bashevis Singer, 1978.
Como montar Um Sonho de Goldadn hoje se os seus personagens foram esquecidos, suas músicas ficaram indecifráveis, e sua língua se perdeu na destruição do seu território de origem?
Uma peça sempre existe em uma relação estreita com um público à espera. Há um pacto íntimo entre a plateia e o palco, marcado por cumplicidades, convenções, conhecimentos compartilhados, referências em comum. Se esse silêncio implícito se desfez, como trazer à tona o universo que sustenta essa criação?
Talvez seja justamente assumindo essa perda. A condição de possibilidade de LESTE é a ausência, mas não para falar sobre ela, remexendo em nossas feridas e traumas, e sim para entender como transformá-la em um fio que atravessa e preserva a tessitura do tempo, as gerações que passaram e as diásporas que aqui convivem - ausência da tradição, ausência dos atores no palco, e ausência da língua.
Como encenar um teatro judaico hoje? Como montar uma peça depois de um náufrago histórico? Que repertório de resiliência pode ser encontrado em uma peça escrita em plena guerra e recriada em uma pandemia?
Teatro de Arte Israelita Brasileiro TAIB, em obras, anos 1950. Acervo ICIB/Casa do Povo
Se cada época tem suas felicidades, suas dores, suas urgências, suas músicas e suas gírias, cada época também tem o seu teatro. LESTE surgiu desse desejo de fazer teatro em um momento em que não era possível se reunir. Com formato híbrido, LESTE é um acontecimento presencial, mesmo que na ausência física dos atores. Para a diretora Martha Kiss Perrone, LESTE é um “teatro em exílio no cinema”. O cinema, assim como a língua ídiche, é, por sua vez, o lugar ideal dos fantasmas. Em LESTE, atores, atrizes e músicos se tornaram sombras projetadas na tela, cantando numa língua diaspórica. Quase exclusivamente filmado no histórico teatro TAIB arruinado, o filme-instalação traz à tona a beleza frágil e a potência específica da prática teatral para encantar um mundo anestesiado.
Abraham Golfdadn (1840-1908) É considerado o pai do teatro ídiche. Seus personagens – Boba Yakhne, Hotsmakh, Kunl Leml –, cada um com suas músicas, formaram o imaginário do teatro ídiche.
Casa do Povo Fundada em 1946, aberta em 1953, a Casa do Povo é resultado da reunião de diversas iniciativas da comunidade judaica que nasceram na luta contra o fascismo. Uma das iniciativas é o dramkrayz, o grupo de teatro, que teve um papel fundamental para a construção do teatro TAIB.
Dibbuk ou Entre dois Mundos Essa peça foi escrita entre 1913 e 1916 por An-Sky (1863-1920) a partir de sua pesquisa etnográfica nos shtetls da Europa do Leste. O título se refere ao espírito que pode assombrar os mortais. Depois da morte do autor, tornou-se um clássico do teatro ídiche. Em 1937, com direção de Michał Waszyński, ganhou uma adaptação para o cinema. Foi um dos poucos filmes ídiche que atravessou a guerra.
Dramkrayz Literalmente "círculo de teatro" em ídiche, era o nome dado ao grupo formado por atores amadores e profissionais, e que surgiu antes da fundação da Casa do Povo, mas participou ativamente da sua construção e da construção do teatro TAIB. Especializado no repertório ídiche, formou atores que atuaram para além desse repertório. Foi esse grupo que formou o núcleo da montagem de Um Sonho de Goldfadn, em 1948.
Gershon Knispel (1932-2018) Com uma obra engajada politicamente e muitas encomendas em espaços públicos (praças e sinagogas), Gershon se tornou uma figura conhecida das artes plásticas em Israel e no Brasil. Um dos seus trabalhos mais conhecidos é o mosaico que ocupa a fachada da antiga TV Tupi (popularmente conhecida como "Torre da MTV") na Alfonso Bovero. Em 1960, realizou os oito painéis acústicos do teatro TAIB – três dos quais foram recentemente restaurados e estão expostos no primeiro andar da Casa do povo. Uma outra obra dele que pode ser visitado no bairro é um grande painel na sinagoga do Ten Yad "Esther Safra", na rua Newton Prado, 76, onde funcionava antigamente a groisse shil, a "grande sinagoga", em ídiche, como era conhecida a Sinagoga Knesset Israel.
Haskalá Conhecido como o "Iluminismo Judaico", o movimento da Haskalá surgiu no século XVIII em Berlim, no rastro do pensamento do filósofo Moses Mendelssohn (1729–1786), e se propagou em todas as comunidades judaicas da Europa para tirar os judeus dos guetos – em todos os sentidos. Promovendo a secularização e integração na sociedade maior, gerou conflitos com religiosos ortodoxos e marcou o pensamento judaico para sempre.
Hassidismo (ou Chassidismo) Fundado pelo rabino Baʿal Shem Ṭov, nasceu no século XVII, na Polônia, como uma renovação do judaísmo piedoso, promovendo uma relação menos baseada no estudo racional dos textos religioso e sim numa conexão mística e celebrativa com o divino, valorizando a vida terrestre, o afeto e o prazer. Entrou em choque tanto com as correntes tradicionais do judaísmo da época, quanto com o movimento da Haskalá. Produziu contos e lendas que são passadas de geração em geração como ferramentas pedagógicas. Essa sabedoria foi compilada por Martin Buber no século XX. O desdobramento mais famoso do Hassidismo é o Chabad-Lubavitch. Com suas indumentárias características (caftan preto e chapéu preto), seus membros são facilmente reconhecíveis e podem ser encontrados pelas ruas do Bom Retiro.
Ídiche Língua de origem germânica, escrita usando o alfabeto hebraico, o ídiche surgiu por volta do século IX e se consolidou como a língua dos judeus ashkenazim – judeus da Europa Central, da Europa do Leste e seus descendentes. Popular, o ídiche servia tanto para a vida cotidiana, quanto para o estudo do Talmud, a lei judaica oral. É marcada por influências eslavas, polonesas, aramaica e hebraica, muitos sotaques e variantes. A partir do século XIX, no rastro da Haskalá, nasceu uma ampla literatura em ídiche. Foi sendo sistematizado e passou por reformas ortográficas e linguísticas no início do século XX. Com a Shoah, a população que fala ídiche diminuiu drasticamente ao mesmo tempo em que ela foi se espalhando pelo mundo. Com a criação de Israel, o ídiche foi apagado pelo crescimento do hebraico moderno, mas segue vivo. Hoje é falado principalmente por judeus ortodoxos e por pesquisadores, e tem ganhado cada vez maior atenção. Pode ser ouvido pelas ruas do Bom Retiro e lido na sala de leitura da Casa do Povo.
Ídichland É um território transnacional que atravessa a Europa Central e a Europa do Leste reunindo pessoas que falam o ídiche e moram na Áustria, Belarus, República Tcheca, Estônia, Hungria, Letônia, Lituânia, Moldávia, Polônia, Romênia, Eslováquia e Ucrânia, e em regiões europeias da Rússia. Foi destruído com a Shoah.
Jakub Rotbaum (1901-1994) Nasceu e viveu a maior parte da sua vida na Polônia, onde trabalhou como diretor, criando elos entre a tradição do teatro ídiche, os clássicos do teatro ocidental e as questões sociais do seu tempo. Em 1940, foi convidado para trabalhar no famoso Yiddish Art Theater de Maurice Shwartz em Nova Iorque. Atravessou a guerra longe da Europa, quando escreveu sua peça de maior sucesso, Um Sonho de Goldfadn, com a qual ela viajou o mundo nas décadas seguintes. No pós guerra, foi diretor do Teatr Polski em Wrocław (Breslávia), de 1951 a 1962. A partir de 1968, focou exclusivamente no teatro ídiche. Veio para São Paulo uma primeira vez em 1948 para montar Um Sonho de Goldfadn. Voltou em 1961. Nesta segunda viagem, conheceu o recém inaugurado teatro TAIB e trabalhou com o dramkrayz em diversas leituras e pequenas peças.
Klezmer Ao lado de palavras shpilman, muzikant e leyts, a palavra ídiche klezmer é usada desde o século XVIII para se referir aos grupos formados por músicos judeus e geralmente contratados para casamentos e outras ocasiões especiais. Por necessidade, e por causa de diversas restrições, os klezmerim eram nômades e, por isso, vistos com desconfiança. Assim como a língua ídiche, a música tocada por eles – chamada também de klezmer – lançava mão de referências musicais judaicas religiosas e de referências regionais. Suas formações mais recentes incluem um ou dois violinos, um violoncelo e um clarinete. Conheceu uma importante reforma a partir dos anos 1970, com o surgimento da World Music. A banda klezmer Bodka que toca em LESTE foi criada especialmente para o projeto.
Levante do Gueto de Varsóvia No dia 19 de abril de 1943, na Polônia ocupada pelo exército nazista, judeus e judias, presas no Gueto de Varsóvia, unem-se em um derradeiro levante. No dia 16 de maio, a destruição da Grande Sinagoga Tlomackie marca o fim do Levante e do que foi a maior comunidade judaica da Europa no coração do Ídichland. Apesar da derrota, o Levante ficou na história como símbolo de resistência. A Casa do Povo nasceu no rastro desse evento, em 1946, para manter viva a memória dos que se foram e para conectar os levantes do passado com os do presente. O Levante é comemorado até hoje todo ano na Casa do Povo. Nessa ocasião é entoado o Hino dos Partisans.
Partisan A palavra surge no século XIX para indicar quem participa da guerrilha, mas se popularizou no século XX para designar organizações paramilitares que lutavam contra o nazifascismo. Vários cantos levaram a memória dos partisans para a cultura popular como Bella Ciao (os partisans italianos), Chant de partisans (os partisans franceses) e o Hino dos partisans (os partisans judeus) – este último costuma ser entoado todo ano na Casa do Povo, em ídiche, no aniversário do Levante do Gueto de Varsóvia, pelo Coral Tradição e o publico presente.
Shoah "Catastrofe" em hebraico, a palavra se refere ao genocídio perpetrado pelo nazismo contra o povo judeu. É preferido à palavra "Holocausto", já que não houve "sacrifício pelo fogo" (etimologia da palavra "holocausto") e sim uma terrível destruição da vida judaica do Ídichland. Importante lembrar que além dos 6 milhões de judeus, mais de 5 milhões de não judeus foram também assassinados, entre os quais ciganos, eslavos, testemunhas de Jeová, homossexuais, negros, pessoas com deficiências e oponentes políticos do nazismo como comunistas, sociais democratas, partisans, membros dissidentes da igreja católica e prisioneiros de guerra, além de muitos artistas.
Shtetl "Aldeia" em ídiche, o shtetl é o núcleo real – e imaginário – da vida judaica do ídichland. Real, já que boa parte da comunidade judaica do Ídichland vivia nessas aldeias. Imaginário, pois ganhou grande espaço no imaginário dos judeus urbanos, ora como lugar de origem, ora como lugar de sofrimento, quanto na própria literatura ídiche. O mais famoso shtetl imaginário é Boyberik, vilarejo fictício onde se passa a história de Tévye o leiteiro, de Sholem Aleichem.
TAIB O Teatro de Arte Israelita Brasileiro, popularmente conhecido como Teatro TAIB, é situado no subsolo da Casa do Povo e foi um dos importantes palcos da cidade de São Paulo. Abriu em 1960, sete anos depois da abertura do edifício, e foi desenhado pelo arquiteto Jorge Wilheim. Tornou-se conhecido não apenas pelo seu projeto acústico, sua decoração, seu poço de orquestra e seu urdimento, como também por ter sido sede do Teatro Popular do SESI de 1962 até 1977 e por ter acolhido o Teatro de Arena, Abujamra, MPB-4, Guarnieri, Renato Borghi e tantos outros que passaram pelos seu palco. Está sendo objeto de um projeto de reativação. Para saber mais, entre em contato com a Casa do Povo.
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